Falácias e princípios da educação – Parte 2

Olá pessoal! Espero que tenham gostado do primeiro post do blog semana passada. Estou de volta com mais duas falácias e dois princípios da educação. Quais princípios e falácias você já se deparou no seu ensino?


Falácia no. 5: O professor fornece a motivação aos alunos. É muito comum nós, professores, nos cobramos muito para acharmos maneiras de motivar os alunos. Criamos atividades variadas, buscamos músicas mais conhecidas, damos prêmios, adesivos etc… E quando nada funciona, achamos que falhamos, que não fizemos o suficiente para estimular o aluno… Pode ser que o que motive um aluno seja diferente do que nós achamos legal ou interessante. E se não identificamos o porquê que esse aluno se interessa por música, por que escolheu piano, se não entendemos sua personalidade e seus gostos, será muito difícil estimular e manter o interesse dele.

Princípio no. 5: Os alunos fornecem a própria motivação. Chronister afirma que “em todo ensino de qualidade, o bom professor de piano utiliza a motivação que já existe na criança, que já está meio adormecida na criança. (…) O bom professor acha e expande a motivação existente que já está dentro do aluno” (p. 19). Isso significa que não adianta forçarmos uma atividade, algo que achamos que vai ser interessante para o aluno se ele não está nem aí para isso. Por exemplo, queremos que o aluno estude um Minueto de Bach e dizemos que ele vai ganhar um brinde se aprender a peça. O aluno pode até querer o brinde, mas se ele não gosta de Bach e, sim, da música do filme Moana, ele provavelmente ficará logo entediado e vai reclamar que as aulas são chatas…. Podemos, no entanto, oferecer as duas peças para ele. A cada 8 compassos do Bach, ele aprende 4 da Moana (se seu foco for maior em música clássica). Se o aluno ainda não consegue tocar a música que ele quer, ofereça algo parecido, e mostre excitação com a música que está sugerindo. Não devemos substituir a motivação do aluno pela nossa. Pelo contrário, devemos descobrir qual é a motivação dele, e achar maneiras de expandi-la contribuindo para seu desenvolvimento musical.

Falácia no. 7: Trabalhar em tarefas sem propósito é boa disciplina. Para os professores é fácil arrumar objetivos ao pedir para alunos que toquem uma certa passagem um certo número de vezes sem errar. O aluno, no entanto, pode não entender esse motivo. Atividades nas quais alunos não veem um propósito claro só fazem sentido para aqueles que querem agradar o professor. Para outros, essas tarefas os fazem odiar estudar e odiar piano. Passar esse tipo de atividade apenas produz alunos submissos, e que fazem o que pedimos, mas logo esquecem o que tentamos ensinar. Isso acaba destruindo o interesse pela música e a motivação de aprender. Se ele não entende o motivo de ter de fazer um exercício, mesmo que o faça, provavelmente não estará totalmente focado, e talvez cometa erros, e não progrida. Devemos sempre lembrar os objetivos e interesses do aluno em aprender piano, e apenas tarefas que contribuam para esse propósitos podem sem consideradas boa disciplina, pois geram mais aprendizado. Devemos fazer com que as repetições sejam criativas e sempre lembrar que essas repetições são para tornar o aprendizado mais sólido, e, para isso, as repetições precisam ser corretas cada vez. Se o aluno ainda não aprendeu algo bem, e o pedimos para repetir um trecho dez vezes, provavelmente repetirá mais erros que acertos e aprenderá coisas erradas. Além disso, se um aluno toca um ritmo errado, por exemplo, mostramos a ele que não está correto, e ele acha que conseguiu entender a maneira correta, mesmo que peçamos para ele contar e bater o ritmo dez vezes antes de tocar a peça, ele provavelmente não irá fazer, pois acha que já entendeu e essa atividade é desnecessária. O que acontecerá na semana seguinte? Ele provavelmente ainda estará com o ritmo errado, pois não viu a razão de fazer a atividade que passamos.

É importante ensinarmos o aluno a perceber os erros, e cada etapa ou repetição de uma tarefa deve ter um objetivo diferente e cada uma deve criar boa música. Ele não deve repetir a mesma coisa exatamente igual um monte de vezes, cada vez deve ser diferente. Chronister dá um bom exemplo para uma tarefa para corrigir um ritmo errado. Ele sugere que o aluno aponte e conte o ritmo do trecho lentamente (com as subdivisões, como 1 e 2 e 3…), depois aponte e conte o ritmo rapidamente (sem subdivisões, apenas contando 1 2 3…), depois apenas aponte para os ritmos sem contar. O último passo é explorar o som e a sensação do ritmo, sem contar, em qualquer tecla, dinâmica e técnica. Isso significa que o aluno deve improvisar usando o ritmo. Após experimentar com o som e a sensação dessa figura rítmica, ele volta a tocar sua peça. O autor também enfatiza que o professor deve ouvir uma improvisação antes de deixar o aluno tocar a peça na aula.

Princípio no. 7: Trabalhar em tarefas com um objetivo musical é boa disciplina. Devemos colocar nossa criatividade em prática ao passar exercícios aos alunos. Fazer com que a cada etapa ele esteja criando música. Ao invés de focarmos em corrigir um erro, como em corrigir um ritmo errado no exemplo anterior, focamos em criar uma improvisação usando o ritmo que deve ser corrigido. Se o aluno tem oportunidade de explorar os sons do piano em tarefas de repetição, por exemplo, ele provavelmente irá tocar sua peça de maneira mais musical. Se um aluno está com problema com notas e ritmo em um certo trecho, por exemplo, podemos separar esses dois parâmetros e pedir que ele experimente com cada um separadamente. Quando estiver trabalhando com as notas, não se preocupar com o ritmo e vice versa. Já vimos uma atividade para o ritmo e podemos fazer algo semelhante para as notas. Por exemplo: apontar e dizer o dedilhado; fingir tocar a música em uma mesa com o dedilhado correto e dizendo o número dos dedos; dizer o nome dos intervalos; tocar esses intervalos no piano começando na nota que ele escolher e com qualquer ritmo; apontar e dizer o nome das notas; tocar as notas corretas, com o ritmo que ele escolher. Além de diversificarmos as repetições, também estimulamos a criatividade do aluno.
Espero que tenham gostado desse assunto! Na próxima semana, trarei uma sugestão de brincadeira didática. Um abraço!

Baseado em Chronister, R. “Principles of Teaching and Learning: eight fallacies and eight basic principles of education,” em A Piano Teacher’s Legacy, edited by Edwards Darling, 7–28. Kingston: The Francis Clark Center for Keyboard Pedagogy, 2015.

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