Como Analisar um Método de Iniciação à Leitura? Parte 1

Oi, pessoal! Durante meu doutorado, pude analisar detalhadamente diversos métodos de piano e hoje, gostaria de compartilhar com vocês alguns critérios que utilizávamos para avaliar um método. Esses critérios são abordados em detalhe no capítulo 3 no livro Professional Piano Teaching, de Jeanine Jacobson. Acho muito importante conhecer bem um material antes de utilizá-lo com alunos. Dessa forma, sabemos como a apresentação dos conceitos é feita, quais atividades são priorizadas, o que precisa de suplemento, quais materiais funcionam junto com esse método, descobrimos seus pontos fortes e fracos, se ele está em acordo com nossa filosofia de ensino, podemos preparar o aluno para conceitos que serão apresentados futuramente no livro, etc. Assim também, teremos mais informações para escolhermos um material que funcionará com cada tipo de aluno, ao invés de ficarmos presos em um só ou escolhermos um método que não é apropriado para um certo tipo de aluno. Claro que quanto mais usamos um livro, mais aprendemos sobre ele, mas nada melhor do que estar preparado para utilizá-lo desde o início, não é mesmo?


Os três critérios principais para avaliar um método são: apresentação sistemática de conceitos e habilidades, reforço amplo, e abrangência. Para não ficar um post muito longo, vou abranger alguns critérios hoje, e o resto na próxima semana, fique ligado!

Apresentação Sistemática de Conceitos e Habilidades: nesse critério, você avalia se o livro apresenta os conceitos e habilidades de forma lógica, organizada e gradual. Um conceito não deve aparecer em uma peça antes de ter sido apresentado e trabalhado. Cada nova peça deve ser apenas um pouco mais difícil que a anterior e os novos conceitos devem ser acrescentados sobre o que o aluno já aprendeu.

Reforço Amplo: Após um conceito ser apresentado, ele deve ser trabalhado várias vezes, em mais de uma peça, gradualmente de forma mais difícil e variada, para garantir que o aluno compreenda e domine bem a habilidade. Outros novos conceitos não devem ser introduzidos até que se tenha tido reforço suficiente do que acabou de ser aprendido. Se um conceito aparecer apenas uma vez, e demorar muito para ser utilizado de novo, o aluno provavelmente terá de reaprendê-lo.

Abrangência: esse critério avalia se o método proporciona várias experiências para os alunos desenvolverem técnica, performance, teoria, treinamento auditivo, criatividade, transposição, ritmo, leitura, e prática de conjunto (indicada principalmente pela presença de duetos). Cada conceito é explorado em atividades e contextos diversificados. Isso contribuirá para tornar os alunos músicos mais completos.

Agora irei explorar alguns critérios específicos, dando algumas sugestões do que analisar em cada categoria.

Extensão e Formato: nessa categoria avaliamos, por exemplo, se o livro é longo o bastante; se é específico para ensino em grupo ou individual; o que o aluno terá aprendido ao fim do livro; se as páginas são claras (sem coisas supérfluas, ou muitas palavras, ou desenhos excessivos); se o material é apresentado de maneira fácil de compreender e de forma legível e atrativa na página; se as notas musicais são de tamanho apropriado para a idade do aluno (crianças mais novas ou adultos mais velhos precisam de notas maiores); se as ilustrações estão relacionadas com a música e se são interessantes e criativas; se as músicas apresentam letra; se o livro é separado em unidades; se o livro é horizontal (o que é preferível para crianças mais novas); se os dedilhados e outras marcas editoriais são apropriados (se são suficientes, e não exagerados).

Exploração do Teclado: se o aluno explora toda a extensão do teclado ou se é restrito ao meio do piano; se ele fica muito tempo em só uma tonalidade ou explora várias tonalidades; se utiliza teclas brancas e pretas; se há peças com mudança de registro.

Abordagem de Leitura: se o método de introdução à leitura é Dó Central, Multi-key, Interválica ou Eclética; se as notas e intervalos são introduzidos em uma ordem lógica; se há reforço suficiente; se utiliza leitura fora do pentagrama e se a explora por tempo suficiente; se introduz os dois pentagramas separadamente; se o nome das notas aparece dentro delas ou não; se incorpora transposição; como os acidentes são introduzidos; se utiliza notas de referência; se as notas são apresentadas individualmente ou em grupos; ordem de apresentação das claves; se o aluno lê as duas claves na mesma peça; se lê notas juntas nas duas mãos ou apenas mãos alternadas; se inclui acordes ou intervalos harmônicos.

Ritmo: se explora o conceito de pulsação suficientemente (principalmente utilizando bastante as semínimas antes de apresentar outros ritmos); qual método de contagem é utilizado (contagem métrica, por exemplo 1 2 3 4, em 4/4; numérica ou unitária, que conta o valor de cada nota; silábica, etc.); se apenas uma nova figura rítmica é introduzida de cada vez; se encoraja exercícios rítmicos; se as pausas aparecem ao longo da peça e não apenas ao final dela; como a fórmula de compasso é apresentada; se utiliza fórmula de compasso parcial (com a figura rítmica no lugar da unidade de tempo); quais compassos são utilizados; quais tipos de atividade rítmicas são incluídas; quais figuras rítmicas são apresentadas.

Semana que vem volto com mais oito critérios, até lá!

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