Olá pessoal! Há duas semanas, falei sobre alguns critérios que podem te ajudar a avaliar um método de iniciação ao piano. Hoje, vou dar a minha opinião sobre um método. Não será o início de uma série sobre métodos de piano, mas pretendo fazer algumas análises de livros didáticos periodicamente. As análises postadas no blog serão mais como uma visão geral do método, apontando suas principais características. Espero que lhes ajude e sirva como ponto de partida para conhecer os métodos. Hoje, vou abordar o método “The Music Tree” e terei um foco maior no primeiro livro da série: “Time to Begin.”
Para quem olha à primeira vista, “Time to Begin” pode parecer um livro estranho e até chatinho. No entanto, ele apresenta uma abordagem pedagógica excelente e, caso usado da maneira correta, preparará o alunos para ler muito bem, tocar musicalmente e com boa técnica. Esse método foi criado por Frances Clark, Louise Goss, e Sam Holland e foi publicado inicialmente em 1955. Frances Clark foi uma grande pedagoga norte-americana e revolucionou o ramo da pedagogia do piano nos Estados Unidos. “The Music Tree” foi um método pioneiro ao introduzir a leitura fora da pauta musical, pentagrama reduzido, e leitura intervalar. A série possui seis níveis: Time to Begin, partes 1, 2A, 2B, 3 e 4. Todos apresentam um livro de atividades, e, a partir do livro 3, há também um livro de “Keyboard Literature,” um de “Keyboard Technique” e um chamado “Student’s Choice.”
O livro tem dois personagens: o esquilo Chip, e o cachorrinho Bobo. Chip chama a atenção do aluno para ler o que está na página, e Bobo chama a atenção para os sons que são tocados. Os livros são separados por unidades e apresentam um índice que mostra o nome das peças e o que será aprendido naquela seção. Isso é muito bom para ajudar o professor a organizar os planos de aula. Este método não apresenta muitas explicações, então o professor precisa estar muito bem preparado para a aula, para não deixar nenhum conceito importante de fora. Por exemplo, ao contrário de muitos métodos, ele não introduz o aluno à maneira correta de sentar, posicionar as mãos e o número dos dedos. O professor é responsável por lembrar de abordar esses assuntos e fornecer material suplementar.
As unidades são separadas em “Discoveries” (Descobertas), “ Using what you have discovered (Usando o que você aprendeu), e uma seção que inclui revisão, exercícios escritos, exercícios rítmicos e técnicos, composição, improvisação e transposição. E fique atento! Melhor do que esperar até o final da unidade para fazer as atividades dessa seção final, muitas delas podem ser usadas ao longo da unidade, pois elas reforçam os conceitos que são apresentados, incluem pequenos exercícios técnicos que podem ser feitos diariamente e outras atividades que se encaixam perfeitamente ao longo da apresentação dos conceitos da unidade. Portanto, não espere chegar até essas páginas para utilizá-las! Saiba o que elas contém de antemão, utilize-as em cada aula, e volte nelas quando necessário. Na parte “Discoveries,” os conceitos são apresentados e trabalhados; e na “Using what you have discovered,” eles são reforçados e expandidos. Em “Time to Begin,” cada página possui perguntas para ajudar o aluno a analizar a música antes de tocar, o que é muito bom para ajudar a criar alunos mais independentes.Há também algumas dicas de como estudar a peça e que estimulam o aluno a pensar sobre o caráter e o som que a peça deve ter. Os títulos e letras são também relacionados com o conteúdo musical, e vale à pena traduzir/adaptar para o português. As páginas são bem claras, sem muitas figuras que poderiam distrair o aluno.
O livro apresenta muitas músicas fora do pentagrama e que exploram a movimentação em toda a extensão do piano, assim como o movimento amplo dos braços. Os alunos utilizam apenas um dedo no início, evitando assim a tensão de tentar coordenar dedos individuais. O progresso técnico é muito sistemático e foca em uma técnica relaxada e sempre com atenção ao som. Também estimula o uso de movimentos amplos para exercícios rítmicos, para que o aluno internalize a sensação de pulsação e subdivisão rítmica. O método utiliza a contagem numérica/unitária (contando a duração de cada figura rítmica) e a fórmula de compasso é introduzida um pouco tardiamente, mas sem trazer prejuízos à compreensão rítmica do aluno (na verdade, isso ajuda na fluidez da performance), e é apresentada de forma parcial inicialmente (com a figura rítmica no lugar da unidade de tempo). Um ponto interessante é o uso de compassos irregulares e compostos.
A leitura nas claves é apresentada apenas ao final do livro. No entanto, até chegar lá, os alunos puderam desenvolver técnica, leitura por contorno e intervalos, leitura com pauta reduzida, introduzindo cada linha e cada e intervalo individualmente, e focaram no desenvolvimento rítmico, auditivo e musical. Na pauta reduzida, uma nota de referência é colocada à esquerda do lugar ela que ocupará na pauta e os alunos leem a partir dela de forma intervalar. Mesmo após a introdução da pauta reduzida, peças fora do pentagrama ainda são esporadicamente utilizadas. É necessário o uso de suplementos para cada clave, pois há apenas um exercício que utiliza cada clave individualmente. Logo após isso, o aluno já começa a ler as duas claves ao mesmo tempo, porém as notas de referência são evidenciadas. O nome das teclas brancas é introduzido relativamente cedo, mas elas não são utilizadas por certo tempo. Portanto, o professor terá de incluir alguns materiais extras até esse conceito ser utilizado mais a fundo no livro.
As duas mãos são usadas igualmente ao longo do livro e dinâmicas são apresentadas bem cedo, mais uma vez focando no resultado sonoro das peças. As peças são curtas e lineares e há poucas melodias conhecidas, principalmente até começarem a ler no pentagrama reduzido. Portanto, é importante que o professor busque material extra para manter a motivação do aluno. Há duetos simples, mas que devem ser utilizados, pois contribuem para aumentar a textura das peças. Há também peças em compassos irregulares (5/4 por exemplo). No livro 1, as músicas começam a ficar mais interessantes (apesar de que, minhas aluninhas no “Time to Begin” nunca reclamaram, até adoram algumas das pecinhas simples!).
No geral, acho “The Music Tree” um método muito bom e tenho tido sucesso com meus alunos. Talvez, por mover um pouco mais lentamente devido à quantidade de material fora do pentagrama completo, não funcione tão bem para alunos um pouco mais velhos (diria acima de 8 anos). É um método que exige mais do professor, pois é preciso programar bem a aula, saber realmente o que deve ser introduzido, e preparar suplementos, pois há alguns conceito implícitos. No entanto, é um método muito sistemático e gradual, os conceitos/habilidades são muito bem preparados, há bastante reforço para cada um, há uma preocupação em fazer com que o aluno pense na sonoridade e analise a peça antes de tocar, foca em uma técnica natural e relaxada, explora toda a extensão do teclado e inclui atividades criativas. Por ser muito bem planejado, sem surpresas para os alunos, e por ficar gradativamente mais difícil, os alunos tem a sensação de sucesso e de estarem progredindo. Os conceitos se unem uns aos outros muito bem.
Bom, vou ficando por aqui. Esta foi apenas uma introdução ao método “The Music Tree,” mas espero que tenha despertado o interesse de vocês e trazido algumas informações que possam contribuir para seu conhecimento sobre o método. Se quiser conversar mais sobre esse método, me mande uma mensagem e podemos trocar ideias! Até mais!
Comecei a utilizar esse método agora, pois tenho aluninhos de 5 e 6 anos.
Confesso que ele tem várias coisas que eu gosto, mas as músicas só com teclas pretas, às vezes troco a posição para as brancas, com os nomes das notas.
Acho importante tudo que ensina, mas pela experiência com outros livros parecidos que utilizam só as pretas por muito tempo, os alunos acabam se desligando totalmente do polegar, e quando ele é usado posteriormente, se torna muito difícil.
Gosto muito da leitura com poucas linhas, e até exploraria mais isso. Talvez com uma linha para cada mão.
Bom, está dando certo, porque, como você disse, preparo as aulas com várias atividades e o livro é uma delas.
Mas o que eu mais sinto falta é de um já com a tradução para português. Crianças muito pequenas já lêem português sem muita fluência, em inglês é ainda pior. Sinto falta principalmente dos nomes das notas em português. O livro acaba todo riscado, o que é uma pena.
Mas com certeza vejo inúmeros pontos positivos nesse livro.
Abaixo começar no dó central e demorar muito nessa posição, como se o piano só tivesse 9 teclas brancas. O tree music é realmente o caminho a ser trilhado.
Adorei sua publicação.
Muito bem colocado, Ana Lúcia! Um método sozinho não faz milagres. É importante o professor adaptar de acordo com sua experiência e necessidade, pegando o que tem de bom e modificando o que não funciona tão bem. É uma pena mesmo que não tenha tradução… Fico feliz que tenha gostado do post!