A maioria de nós já se deparou, em algum momento, com alunos que iniciaram aulas com outro professor e agora estão em busca de um novo instrutor. Os motivos variam muito: pode ser por mudança de localidade, alteração da situação financeira ou, até mesmo, descontentamento com a atual forma de ensino, por exemplo. No entanto, em todas elas, o novo professor deve saber identificar os pontos fortes e fracos do aluno para conseguir atendê-lo da melhor forma possível. Neste post, tratarei justamente sobre como identificar esses pontos durante o primeiro contato com o aluno.
Realizar uma entrevista detalhada com o aluno antes da primeira aula é importante para entender como eram as aulas com o antigo professor, por que ele busca um novo professor, quais são seus objetivos, qual é o seu nível atual, quais são suas facilidades e dificuldades, qual material estava sendo utilizado, e quais são seus gostos. Nela, o novo professor também pode expor sua maneira de trabalhar, suas expectativas quanto à pratica, e regras do estúdio. A partir dela, o professor poderá montar um plano de estudo e um currículo para o curto e longo prazo e selecionar repertório e exercícios que atendam às necessidades daquele aluno de maneira mais acertada. Alunos adultos costumam verbalizar bem suas expectativas e dificuldades, enquanto crianças precisam de um olhar mais atento do professor para identificar seus pontos fortes e fracos. Mas, para ambos, é necessário uma conversa e uma observação detalhada nesse primeiro contato.
Nessa entrevista, algumas questões essenciais são:
- Há quanto tempo o aluno faz aulas e quantos professores já teve;
- Há quanto tempo o aluno está sem aulas;
- Qual era o formato das aulas (online, presencial, duração da aula, individual, em grupo);
- Razões por buscar um novo professor;
- Tempo diário de estudo;
- Preferências de repertório;
- Instrumento de estudo em casa;
- Objetivos e expectativas musicais.
Essas perguntas são de fácil resposta e podem ser feitas por meio de um questionário enviado para o aluno, ou os pais, até mesmo antes da entrevista. Questões sobre repertório, técnica, teoria são melhores avaliadas na prática durante a entrevista. O aluno deve ser instruído a trazer para a entrevista as últimas peças em estudo, caderno de anotações do professor, e uma lista de peças ou livros utilizados anteriormente.
Durante a entrevista, algumas atividades essenciais são:
- Pedir para o aluno tocar duas ou três peças de seu repertório recente. Na performance, devem ser observados sua musicalidade, sonoridade, habilidades técnicas, postura, tensão, constância e precisão rítmica, precisão nas notas, e fluência.
- Escolher um trecho a ser trabalhado para identificar como o aluno responde à sua maneira de ensinar e como é o seu entendimento. Aproveite para fazer perguntas sobre símbolos e termos da partitura, como: intervalos, acidentes, armadura de clave, fórmula de compasso, dinâmicas, figuras rítmicas, acordes, nomes de notas.
- Realizar leitura à primeira vista. Você deve separar pequenos excertos de diferentes níveis de dificuldade. Comece pelo mais simples e aumente a dificuldade até chegar no limite da habilidade de leitura do aluno. Você deve observar a habilidade do aluno de manter os olhos na partitura, precisão na leitura de notas e ritmos, atenção aos detalhes, habilidade de tocar sem parar. Você pode também optar por dar uns minutinhos para o aluno praticar o trecho e observar sua maneira de estudar.
- Pedir para o aluno tocar escalas/pentacordes, arpejos e observar como ele executa esses elementos técnicos e como é sua posição da mão e braços, possíveis pontos de tensão, passagem do polegar e clareza.
- Verificar seu entendimento rítmico e sua habilidade de contar e executar diferentes padrões. Isso pode ser feito com pequenos exercícios rítmicos isolados ou utilizando-se de um trecho do repertório ou da leitura à primeira vista. Peça para o aluno bater o ritmo e contar em voz alta.
- Analisar a percepção auditiva. Você pode avaliar a capacidade do aluno de identificar grave e agudo, intervalos, modos maiores ou menores etc.
É muito importante que, ao longo da entrevista, você tome nota do que foi observado como, por exemplo:
- Quais são as dificuldades e facilidades do aluno?
- Como são suas habilidades de leitura e execução rítmica? Seu nível de leitura está de acordo com o seu repertório atual?
- Sua execução técnica está de acordo com as demandas do seu repertório?
- Ele compreende todos os termos/símbolos musicais exigidos pelo seu repertório?
- Ele executa o repertório de maneira musical e fluente?
- É necessário algum trabalho de revisão?
Assim, com essa entrevista detalhada, você poderá montar um currículo que supra as necessidades do aluno, preencha lacunas, e ajude-o a progredir. É importante notar que esse trabalho diagnóstico continuará ao longo de algumas semanas e você precisará, ao longo do caminho, adaptar o plano de estudos. Acho importante manter algo do que o aluno já havia começado a estudar (seja uma peça ou um método) para que ele sinta que continua progredindo e, ao mesmo tempo, selecionar peças que preencham possíveis lacunas. Na hora de selecionar o novo repertório, é importante também observar o gosto do aluno e incluir peças de períodos que ainda não tenham sido trabalhados. É importante revisar, trabalhar as dificuldades e lacunas, e progredir, tudo ao mesmo tempo. Mas, claro, de maneira balanceada, gradual e motivadora. O aluno deve conseguir executar essas peças com controle, precisão, segurança e musicalidade e deve se sentir capaz e bem-sucedido, abrindo as portas para um desenvolvimento ainda maior.