O ensino por imitação tem se popularizado nos últimos anos, mas não é uma técnica de ensino recente e nem livre de polêmicas. Essa maneira de ensinar é base da metodologia Suzuki, onde o aluno aprendre primeiro a tocar e só depois é ensinado a ler música. No entanto, também pode ser utilizada em outros contextos, em conjunto com a leitura, e em diferentes níveis de aprendizado, apesar de ser mais usada com alunos iniciantes. Apesar de estar sendo cada vez mais utilizada, ainda é alvo de críticas por partes de alguns professores. Hoje, vamos abordar o que é o ensino por imitação e como ele pode ser incorporado nas aulas.
- O que é o “ensino por imitação” ?
O ensino por imitação é quando o aluno aprende copiando o professor, sem precisar ler a partitura. O professor executa a peça e ensina o aluno a tocá-la, demonstrado cada trecho e estimulando os diferentes sentidos do aluno: a audição para reconhecer padrões, movimento sonoro, intensidades etc.; a visão, para identificar a localização das notas no teclado e quais dedos utilizar; e o tato, para sentir os gestos que devem ser utilizados.
- Por que ensinar por imitação?
O ensino por imitação é um grande aliado no professor nos primeiros estágios de aprendizado do instrumento. Desde o primeiro contato com o piano, os alunos já podem sair tocando melodias interessantes, sem a necessidade de dominarem a leitura musical. Todos nós sabemos que as primeiras peças que os alunos aprendem a ler são muito simples, pois decifrar o código musical demanda muito esforço. No entanto, quando ensinados por imitação, eles podem aprender peças que soam mais sofisticadas e que trabalham elementos técnicos e musicais em um nível acima do que eles conseguiriam ler. Assim, eles podem evoluir nessas habilidades mais rapidamente.
- Quais os benefícios do ensino por imitação?
No ensino por imitação, os alunos podem explorar obras em tonalidades que seriam consideradas “difíceis” para um iniciante, tocar por toda a extensão do teclado, utilizar pedal, explorar acordes e clusters, praticar diferentes articulações e dinâmicas, entre muitos outros elementos musicais que demoram mais tempos para serem introduzidos na leitura musical. Sem a dificuldade de ler as notas, eles podem focar em produzir um som mais musical e executar os gestos e elementos técnicos corretamente. Além disso, as peças ensinadas por imitação são mais motivadoras, por terem sonoridades mais ricas e completas do que as primieras pecinhas ensinadas nos métodos de leitura.
- Quais as desvantagens do ensino por imitação?
O ensino por imitação pode apresentar desvantagens se utilizado sem planejamento. Por exemplo, caso seja utilizado por um longo período sem a introdução da notação musical, o aluno pode ficar relutante em ler a partitura quando ela for apresentada e ficar dependente de demonstrações do professor ou ficar tentano adivinhar de ouvido o que deve ser tocado. Aos poucos, o aluno deve começar a fazer associações entre o que é tocado e a notação na partitura. Se isso não acontece, pode acabar atrapalhando a leitura na pauta. Além disso, se o professor não estimula a escuta ativa e a descoberta do aluno (por exemplo, a busca por padrões e dinâmicas), ele acaba apenas copiando o que foi tocado sem realmente compreender e absorver os elementos musicais que estão sendo utilizados.
- Como utilizar o ensino por imitação de maneira eficiente?
Primeiramente, assim como todo repertório, as peças por imitação devem ser escolhidas com um objetivo, por exemplo: experimentar o legato e staccato, mover pelas teclas pretas, expressar uma paisagem sonora etc… A aula também deve ser bem planejada, do contrário, o ensino de uma peça pode tomar uma grande porção da aula, não dando tempo de realizar outras atividades. Portanto, é preciso que o professor conheça bem a peça, saiba os prováveis pontos problemáticos, e planeje uma maneira eficiente de apresentá-la ao aluno e, se necessário, divida o aprendizado em mais de uma aula. É importante que o professor estimule a escuta ativa do aluno, ou seja, faça perguntas sobre o que ele está percebendo durante a demonstração da obra e estimule a descoberta de elementos musicais, como padrões, planos sonoros, seções etc. Não é necessário que o professor dê muitas explicações, tudo deve ser demonstrado e praticado parte por parte, nunca espere que o aluno execute um trecho muito grande de uma só vez. Além disso, acho importante deixar a partitura à vista do aluno, assim, ele pode identificar elementos que já conhece e associar o som com o símbolo. Quanto mais avançado ele está, mais associações deve ser capaz de fazer. É também muito importante que o professor demonstre os gestos corretos, porque o aluno irá tentar executar exatamente como ele! E é importante que o professor cobre a execução correta dos gestos e de outros elementos técnicos e musicais.
- Como o aluno deve praticar em casa?
Eu gosto de enviar vídeos para que o aluno relembre a música em casa na hora de estudar. No ensino por imitação, é muito importante a participação dos pais nos estudos, para colocar vídeos e gravações para o aluno ouvir e praticar. Além disso, o professor pode utilizar gráficos ou notações não convencionais que auxiliem o aluno a lembrar como executar a peça.
- Quais materiais posso utilizar para o ensino por imitação?
Peças compostas por padrões repetitivos são as mais eficientes para esse tipo de aprendizado, por facilitarem a memorização. Lembrando que, geralmente, os alunos conseguem tocar por imitação peças mais difíceis do que as que eles estão aprendendo por leitura. Aproveite para escolher peças que utilizam uma grande extensão do piano, ritmos mais complexos, pedal, e técnicas estendidas, como clusters, glissandos e percussão. Alguns materiais que gosto e recomendo são:
- Amigos do Piano, de Angelita Ribeiro e Maria Helena Lage
- Diversions, de Juan Cabeza
- Divertimentos, de Laura Longo
- Little Gems for Piano, de Paula Dreyer
- Piano Pérolas, de Liliana Botelho e Carla Reis
- Piano Safari, de Katherine Fisher e Julia Knerr
Acredito que o ensino por imitação pode ser um grande amigo no ensino do piano, por trazer mais benefícies do que malefícios. É um ótimo aliado do professor para introduzir conceitos e habilidades novos, antes mesmo de o aluno conseguir ler a notação musical. Além disso, estimula a percepção auditiva, e acelera o aprendizado técnico e musical, sem depender da fluência na leitura. É também um grande fator de motivação para os alunos, pois eles já podem tocar músicas mais interessantes e sofisticadas desde a primeira aula!
Bom dia Ana Paula!
Amei esse post, vem de encontro com o que penso e realizo nas minhas aulas.
Oi, Dionilde! Obrigada! Que bom!